http://yogajournal.terra.com.br/show_yoga.php?id=1090
Quando você fala sobre o ego, é o mesmo que você chama de “corpo de dor” nos seus livros? Não, o corpo de dor é o aspecto emocional do ego. O ego possui um aspecto mental, que são os pensamentos com que você se identifica, especialmente pensamentos habituais sobre quem você é, e o ego possui também um aspecto emocional, emoções habituais que você experiencia. O corpo de dor é o acúmulo de dores emocionais experienciadas no passado, que ainda vivem alojadas no corpo como um campo de energia. Essa é outra coisa muito importante para se estar consciente, pois é tão importante não se identificar com suas emoções como é não identificar-se com os seus pensamentos. Da mesma forma que você pode dar um passo, distanciar-se dos seus pensamentos e perceber que você não é o seu pensamento, mas sim a consciência por detrás; da mesma forma você pode sentir ou perceber sua emoção quando ela surge, e dar-se conta de que não é você.
Às vezes gosto de usar a expressão: você percebe que você não é a emoção, mas sim o espaço no qual a emoção surge. Você não é o pensamento, mas sim o espaço no qual o pensamento surge. Junto com isso vem uma paz interna e também uma aceitação interna. Isso é muito importante, a aceitação interna de tudo que possa surgir neste momento, porque já está lá, surgindo. Em vez de lutar contra uma emoção, pensar “eu não quero sentir isso” quando já estiver sentindo, simplesmente aceite a emoção que surge... Essa prática é um aspecto importante para descolar-se da emoção, pois quando você nega ou reprime a emoção, somente torna-a mais forte. Assim pode dar um passo para trás e observar: sim, aí está! Você é o espaço antes disso.
Isso se aplica não somente aos pensamentos e emoções, mas a tudo que acontece na sua vida neste momento, tudo que surge externamente, qualquer situação em que você se veja dentro. É exatamente como funciona! Muitas pessoas vivem negando continuamente, sem aceitar o momento presente, pois querem chegar em outro momento quando acham que estarão melhor (risadas). Você precisa perceber que não existe esse tal de momento futuro. A vida consiste no momento presente, a vida se desdobra no espaço do momento presente. Em outras palavras, o momento presente é tudo que você tem e sempre teve na sua vida, nunca houve e nunca haverá nada na sua vida com exceção do momento presente. Você somente experimenta a vida no momento presente, e precisa entender isso não somente no nível intelectual, mas sentir ou experienciar a verdade nessas palavras. É isso, tudo que você sempre possuiu é este momento. É de vital importância uma relação correta com o momento presente, pois significa ter uma relação correta com a própria vida. Aceitação não somente dos pensamentos e emoções, mas também de tudo que acontece nesse momento, pois não pode ser de outra forma, já é. Aceite esse momento como ele é, pois se há conflito com o que é, você sofre (risos).
Se você olha para o futuro para encontrar essa dimensão mais profunda em si mesmo, a qual está além do pensamento, você está na verdade olhando para o pensamento para achar essa dimensão mais profunda, uma ilusão. É por isso que muitos praticantes espirituais não chegam a lugar algum (risadas).
A resposta – e a essência da espiritualidade – está na descoberta da dimensão vertical em você. Não na dimensão horizontal de passado e futuro, não é onde mora a realização espiritual, mas sim na dimensão vertical. Você pode ver: a cruz é a intersecção entre a dimensão vertical e a horizontal. Isso é a vida realmente, mas a maioria só enxerga a dimensão horizontal, passado e futuro, e perde a dimensão vertical, que é o agora. Acreditam que o agora não é importante, o que é uma falácia tremenda, uma grande ilusão. Se você acha que o passado e o futuro são mais importantes que este momento, sua vida é disfuncional, e isso é normal, como a maioria das pessoas ainda vive. A descoberta é que na sua vida não existe somente a dimensão horizontal do passado e do futuro (que continua ali), mas que existe também a dimensão vertical da profundidade. Na profundidade você encontra quem você é, a profundidade é inseparável do momento presente. Para a realização espiritual, ou para perceber quem você é além do eu produzido pela mente, além do corpo, não há nada que necessite adicionar. Nada que necessite adicionar a você para estar mais completo, para então se encontrar, é uma falácia.
Há muita coisa na dimensão horizontal que é útil, não nego isso. Você necessita da dimensão horizontal, é parte da sua educação, o conhecimento que foi adquirido é parte dessa dimensão. Você tem certo conhecimento na sua mente, aprendeu coisas na escola, na universidade ou em experiências de vida. O tempo é necessário para aprender a tocar piano, para tornar-se bom em Yoga, isso tudo está na dimensão horizontal.
Não nego que esse nível também exista, mas se é a única dimensão que conhece, então sua vida é muita limitada, e acaba por encontrar muito sofrimento, frustração. O preenchimento mais profundo nunca vem para você por meio da dimensão horizontal. Qualquer conquista no passado ou qualquer que seja a conquista no futuro que adicione algo a você nunca irá trazer o preenchimento profundo, a felicidade completa. Sobre felicidade, não uso essa palavra com frequência para não parecer superficial – uma profunda sensação de preenchimento é mais profundo que felicidade. A sensação de unidade com a vida. Essa possibilidade está aí para qualquer um, para todos. Mas ela não se abre até que você se dê conta da existência da dimensão vertical.
A dimensão vertical abre-se de uma maneira bem simples, abre-se assim que você diz sim ao momento presente, internamente, em vez de lutar, fugir, negar ou achar que o momento futuro será melhor. Então, quando você torna-se um com o momento presente, isso se abre e você não mais é um inimigo do momento presente, você não mais o nega e vê quão importante ele é. Quando você faz isso, e começa a viver dessa maneira, algo da dimensão vertical se abre dentro de você. E de repente... oh!... a vida torna-se o momento presente, tudo se torna mais vivo e intenso. É a primeira coisa que as pessoas percebem, elas são o momento presente. Então, talvez eu esteja falando muito (risos). Mas é tudo interconectado. Se me faz qualquer pergunta, irá trazer tudo... eu não posso responder a uma pergunta sem trazer a essência em si do ensinamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
- NÃO ESQUEÇA DE COLOCAR SEU NOME APÓS O COMENTÁRIO.