segunda-feira, 31 de março de 2014

Desequilibrio e Meditação


“Quando sua mente está mais desequilibrada é que você mais precisa meditar”.

Por Alan Wallace

Durante um retiro realizado em Viamão (RS) na segunda metade de janeiro deste ano, o professor budista americano Alan Wallace deu instruções preciosas sobre a prática da meditação shamatha, um dos tipos de meditação budista para o apaziguamento da mente (geralmente através da atenção na respiração), e parte dele foi traduzido e transcrito por Jeanne Pilli, que esteve no retiro e mantém o site Equilibrando.Me - ela gentilmente permitiu a reprodução do trecho aqui. PhD em Estudos Religiosos na Stanford University (EUA), fundador da Santa Barbara Institute for Consciousness Studies (EUA) e autor de livros como “A Revolução da Atenção” e “Hidden Dimensions: The Unification of Physics and Consciousness”, Alan Wallace traz uma abordagem sempre muito clara e detalhada sobre o contato e o trabalho sobre a mente, e esse trecho transmite isso. Na essência da mensagem, a importância de meditar quando mais a mente precisa, ou seja, no desequilíbrio.

Segue abaixo o trecho das instruções, com agradecimentos ao professor Alan Wallace e à Jeanne Pilli.

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“Para avaliarmos se estamos fazendo a prática de shamatha corretamente, há sempre duas coisas a serem consideradas: o que a sua mente está trazendo para você e o que você está trazendo para a sua mente. São duas coisas bem diferentes.

Algumas vezes durante a prática surgirão muitos pensamentos, não há como controlar, não há como escolher que isso seja diferente. Então você simplesmente repousa: muitos pensamentos vêm, muitos pensamentos vão. Você não está fazendo nada de errado; é assim que as coisas são. Mas se quando surgirem muitos pensamentos você for carregado por eles, aí sim: isso é distração, agitação.

Outras vezes, sua mente estará bem quieta, com poucos pensamentos. E isso também não quer dizer que você esteja fazendo a prática corretamente. Sua mente está simplesmente quieta. Neste caso, a mente está trazendo pouco pra você.

O que nós devemos trazer para a prática, seja lá como estiver a nossa mente, é a habilidade de não sermos carregados pelos pensamentos, de permitir que a nossa consciência permaneça em repouso, iluminando o nosso objeto de meditação, seja a respiração, seja o espaço da mente e eventos mentais, seja a própria consciência.

Portanto, é importante avaliar a sua prática em termos do que você está trazendo para a prática e não com base no que a mente está trazendo pra você.

Essa distinção é muito importante. Na nossa vida, alguns dias serão piores que outros. Haverá dias muito conturbados, com muito trabalho, muitas preocupações, dias ruins. A mente estará bastante irritada, toda a nossa energia estará perturbada. Pode ser que você se sente para praticar e dois minutos depois desista: “Esqueça! Hoje não vai dar pra meditar!” E então se levante, vá ver TV, ou vá para a internet. Isso é como estar muito doente e pensar: “Ah… estou tão doente! Estou muito doente pra tomar remédio! Vou deixar pra quando estiver me sentindo melhor!”

Nesses dias em que a sua mente estiver verdadeiramente uma confusão, você pode simplesmente se deitar na sua cama, com um travesseiro macio sob a sua cabeça e soltar completamente a tensão do corpo, a cada expiração, relaxar completamente, deixar o corpo respirar sem esforço, em seu ritmo natural. Relaxe até o finalzinho da expiração e nesse momento deixe a mente bem quieta, sem nenhum blá, blá, blá. E então permita que o ar entre novamente, sem puxá-lo, em total quietude.

Faça isso por 24 minutos. A mente que você trouxe para a prática pode estar completamente perturbada, atirando pensamentos, pedras, lama, tudo o que é tipo de coisa em você. Não há como controlar isso! É o que a mente está trazendo para você. Mas o que você está trazendo para a sua mente é tão doce, tão suave, tão tranquilizador, que após 24 minutos sua mente estará mais calma, quieta, equilibrada. E aí sim, no final da sessão avalie: esta foi uma boa sessão ou não? Talvez uma sessão difícil em termos do que a mente trouxe para você mas uma boa sessão em termos do que você trouxe para a mente.

É nos momentos em que a sua mente está mais desequilibrada que você mais precisa meditar.”

Desacelere, amigo!





Desacelere, amigo

Frequentemente nos sentimos tão distantes de casa, do amor, das respostas, dos “amanhãs” que secretamente esperamos. Nos sentimos tão longe da vida…

Mas a vida nunca está realmente longe. A vida nunca pode estar à distância. A vida está sempre aqui, onde nós estamos, e somos inseparáveis do seu brilhante esplendor de luz e sombra.

Não há urgência. O verão não corre em direção ao outono. Uma pequena folha de grama não está tentando crescer mais rápido do que a sua vizinha. Os planetas giram lentamente em suas órbitas. Este universo antigo não tem pressa.

Mas a mente, sentindo-se tão dividida da totalidade, quer respostas agora, querer soluções hoje, querer saber tão desesperadamente. Quer alcançar suas preciosas conclusões. E, no fim, quer estar no controle das coisas.

Mas você não é a mente. A mente é um aspecto do todo, mas não consegue capturar o todo…

Então desacelere, amigo. Faça uma profunda e consciente inspiração. Confie no lugar que você está, no lugar do “ainda sem respostas”, o precioso lugar de não saber. Este lugar é sagrado, porque é 100% vida. Está repleto de vida, saturada com a vida, transbordando vida.

Não tente se apressar para a próxima cena do filme de “mim”. Esteja aqui, nesta cena, Agora, a única cena que existe.

Agora é o lugar onde as perguntas descansam e as respostas crescem, nos seus próprios tempos…”

~Jeff Foster~